Encontro Cidades, Energia e Sustentabilidade

A Faculdade de Saúde Pública (FSP/USP) e o Programa de Pós-Graduação em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade (FSP/USP), com o apoio do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas (INCLINE), do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), do Instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP), do Programa de Pós-Graduação em Saúde Global e Sustentabilidade (FSP/USP) e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, convidam para o Encontro Acadêmico Internacional:

Cidades, Energia e Sustentabilidade: Experiência da Alemanha
Palestrante: PhD. Stephan Tomerius – Universidade de Trier, Alemanha
Debatedor: Prof. Ildo Sauer – Diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP)
Data: 06 de maio de 2014
Horário: das 9 às 12h
Local: Auditório IAG do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP) – Rua do Matão, 1226 – Cidade Universitária – São Paulo
Para realizar sua inscrição clique aqui.

O evento contará com a participação do Prof. Dr. Stephan Tomerius, pesquisador da Universidade de Trier, Alemanha, cujo escopo de pesquisa envolve a análise de estratégias e instrumentos no nível urbano capazes de contribuir para a sustentabilidade das cidades, com especial destaque neste evento para a questão energética.

De acordo com o Prof. Stephan, a questão energética vem sendo muito debatida na Alemanha, país que possui, tanto tradicionalmente, como constitucionalmente, um papel institucional forte dos municípios na implementação de leis e políticas internacionais, federais e estaduais. No que diz respeito às políticas de sustentabilidade e legislação ambiental, muitas das estratégias de progresso e exemplos práticos encontram-se nas cidades, seja na área de integração do uso de energias renováveis no desenvolvimento urbano e, especificamente, no planejamento urbano, seja em outros campos relevantes para a sustentabilidade, como a gestão de resíduos sólidos e da água ou proteção do uso do solo. No que diz respeito à proteção do clima e do uso de energia, deve-se destacar que a Alemanha empenha-se para substituir a produção de energia convencional, baseada na energia nuclear, carvão ou óleo, para fontes de renováveis de energia, em um desafio político denominado transição energética (energy-turn).

Após a palestra seguirá debate com o prof Ildo Sauer, Diretor do Instituto de Energia e Ambiente, que tem atuação histórica na área de política energética, tendo acompanhado como cientista, dirigente e formador de opinião os principais eventos da história recente do setor energético brasileiro, nos segmentos elétrico e petrolífero.

Sua extensa produção científica tem se voltado para o enfrentamento das questões mais fundamentais vinculadas ao modo de vida atual: a apropriação e distribuição social da energia, cuja trajetória se dá ao longo das sucessivas formações sociais humanas. Integra este escopo a investigação das transições energéticas que vêm ocorrendo desde que o Homem socialmente adquiriu o conhecimento do controle e estoque da energia solar através da agricultura e da domesticação e pastoreio de animais, rompendo, assim, os laços de dependência da produtividade da natureza. O incrível aumento da produtividade social do trabalho com a apropriação dos recursos naturais, permitindo a geração de excedentes e sua valorização, marca a primeira grande Revolução Social com base no uso da Energia – a Revolução Agrícola. Há menos de trezentos anos, após doze séculos de intensas mudanças,
engendrou-se a segunda: a Revolução Industrial, ancorada, em sua primeira fase, no carvão, e após, na eletricidade e no petróleo, o recurso energético mais consumido e de maior importância para o modo hegemônico de produção.

De acordo com o Prof. Ildo, o petróleo é, em termos de reservas mundiais, o recurso menos abundante. Há mais gás, urânio e carvão, sem mencionar a quantidade renovada diariamente de energia solar, hidráulica, eólica. Todas superam a demanda anual mundial de energia. A dependência que se estabelece em torno do petróleo é respondida, então, em parte, pelas características de alta flexibilidade, baixa entropia, alta concentração e disponibilidade para a realização de trabalho, que aumenta a rentabilidade do sistema hegemônico de produção. Quebrar a lógica intrínseca a esta estrutura, socialmente construída, é um desafio enorme, ainda que os ganhos de produtividade das fontes renováveis aumentem extraordinariamente, porque a margem do petróleo ainda é muito grande. Os enormes excedentes do petróleo, controlados minuciosamente pelos grandes produtores, não deixam espaço para a penetração de outras formas de energia e qualquer expectativa de alteração da matriz energética mundial exigirá o questionamento da organização da estrutura social de produção vigente, da lógica intrínseca ao sistema e ao processo decisório, de acumulação de excedentes, que não se restringe às grandes previsões das agências e da indústria, mas se reflete na existência de cada indivíduo, quando deposita no sistema financeiro, por exemplo, suas expectativas de ampliação de retorno econômico. São dilemas e controvérsias que retornam.

Publicado em 28/04/2014